terça-feira, 18 de setembro de 2007

Longe de Manaus

O romance da solidão portuguesa

Francisco José Viegas

Edições Asa



Francisco José Viegas é o actual Director da Casa Fernando Pessoa e tem vindo a realizar um trabalho assinalável nesta qualidade, assim como é assinalável todo o trabalho que desenvolveu (e desenvolve ainda) na RDP e RTP para a divulgação da Cultura em geral e do Livro em particular. É também escritor prolífico, dentro do género policial, com obras como Um Crime na Exposição, Morte no Estádio ou As Duas Águas do Mar e ainda Lourenço Marques, este último já num outro registo.

Mas este intróito é praticamente desnecessário, pois desde que Longe de Manaus recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, para o ano de 2005, Francisco José Viegas tornou-se uma referência incontornável no panorama dos autores portugueses contemporâneos.

Longe de Manaus é de facto uma obra que merece distinção. É um livro que sob o ponto de vista puramente técnico tem pouquíssimas falhas a assinalar, o estilo é cativante, fresco e original, e a história muito intrincada, mas excepcionalmente bem esquematizada e absolutamente irrepreensível.

O inspector Jaime Ramos, adepto do FCP, fumador de charutos, cinquentão, solteiro e homem de poucos sorrisos, é um personagem recorrente na obra de FJV, mas não é de todo necessário conhecê-lo de outros livros para a leitura deste Longe de Manaus.

Desta feita, Jaime Ramos tem para resolução um caso que se apresenta com poucas pistas para seguir e não fosse a obstinação deste inspector, provavelmente seria esquecido e arquivado. Mas Jaime Ramos é um homem obstinado, como dissemos, e a sua investigação vai levá-lo a Manaus, uma cidade remota no coração da Amazónia. Pouco se desvela nesta viagem, mas a investigação vai, pouco a pouco, revelando novas pistas e o cenário estende-se a uma tumultuosa Angola de antes da revolução de Abril e em tempo de Guerra. Episódios com mais de 30 anos culminam no crime de assassinato de Álvaro Severiano Furtado, que Jaime Ramos tenta, teimosamente, resolver.

Mas, não vamos levantar o véu sob qualquer outro aspecto da história deste policial que, como diz o autor, subverte as regras deste género; «Um romance policial, como se sabe, tem as suas regras. Este não tem», diz-nos FJV nas primeiras páginas. Diremos apenas que este livro interessará não só aos leitores de policiais, mas também aos leitores de ficção em geral. Mostra-nos que existe literatura de grande qualidade em Portugal. Longe de Manaus não sendo uma obra-prima, é um livro excelente e que satisfaz bastante; é um livro que nos faz querer ler mais FJV e que nos faz acreditar que este escritor tem ainda muito para dar…

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